Narguilé e Câncer

O médico oncologista Cesar Augusto Galhardo explica os males do uso do narguilé e porque ele é mais prejudicial que o cigarro. Confira!

Narguilé e cigarro: é o mesmo mal?

Sim. A realidade é que o narguilé causa MAIS MAL do que o cigarro comum. Apesar do narguilé ser visto erroneamente por muitos como um consumo inofensivo do tabaco pois a água “filtraria” as substâncias nocivas do tabaco, existem pesquisas que provaram a presença de substâncias cancerígenas em concentrações ainda maiores do que no cigarro comum.

Uma sessão de narguilé dura em torno de 20-80 minutos, e seu consumo equivale ao consumo de 80 a 100 cigarros comuns (4 a 5 carteiras). Além do consumo do narguilé causar os mesmos malefícios do consumo do cigarro (câncer, bronquite, enfisema, infarto, etc.) também pode estar associado, quando compartilhado, a doenças transmissíveis tais como: herpes, hepatite C, tuberculose e outras doenças da boca.

O que sabemos é: o consumo do narguilé é um consumo de cigarro fumado, que causa tanto ou até mais dano devido ao volume e maneira como é utilizado.

Quais as doenças possíveis de serem causadas pelo narguilé?

Basicamente todas as que o cigarro causa. Doenças pulmonares como enfisema, bronquite, que são as mais frequentes, doenças cardiovasculares como infarto agudo do miocárdio, acidente vascular cerebral (derrame), aterosclerose, que pode levar à perda de membros por doença isquêmica vascular, e os mais diversos cânceres, por exemplo: boca, língua, laringe, faringe, esôfago, estômago, pâncreas, bexiga, pulmão, entre outros. Importante falar que as principais causas de morte no mundo são atribuídas a doenças cardiovasculares e câncer, tendo o consumo do tabaco um papel fundamental na gênese destas doenças.

Existe uma dose segura?

Não existe! E é bom deixarmos isso claro. Todos conhecemos pessoas que fumaram durante toda a vida e não apresentaram câncer, ou tiveram doenças pulmonares brandas, e outras pessoas que com pouco tempo de exposição ao tabaco já enfrentam problemas graves. Isso ocorre pois o desenvolvimento destas doenças está diretamente relacionada a dois fatores: a exposição (tempo e quantidade) e a susceptibilidade genética do indivíduo (como o corpo reage a esta agressão). Para algum uns basta uma pequena exposição para que suas células sofram mutação iniciando assim um processo de proliferação descontrolada que culmina em um tumor maligno.

Fumante passivo, também existe?

Com certeza. É importante lembrar algumas coisas em relação ao fumante passivo: a fumaça inalada pelo fumante passivo é ainda mais tóxica, pois não passa por nenhum tipo de filtro podendo conter 50 vezes mais substâncias cancerígenas do que o do fumante ativo. O fumante passivo do narguile nos preocupa ainda mais pela maneira como este fumo é consumido: por um período prolongado (normalmente mais de 1 hora), em roda, gerando grande quantidade de fumaça para os que estão por perto.

E para as crianças?

as crianças são ainda mais suscetíveis a doenças respiratórias agudas como asma, pneumonia, infecções de ouvido, bronquite e até mesmo a morte súbita (em bebês esse risco chega a ser 5 vezes maior). Além das doenças agudas, as crianças que são expostas a fumaça do tabaco possuem um risco aumentado em 30% de desenvolvimento de câncer de pulmão e 24% de aumento do risco de infarto agudo do miocárdio.

Sobre a lei aprovada na Câmara, acredita que pode trazer benefícios?

Sim, e muito! Assim como o consumo do cigarro foi proibido em ambientes públicos abertos ou fechados: praças, áreas de lazer, escolas e outros, não deve ser diferente com o narguilé. Se ele causa os mesmos males, tanto para o fumante ativo quanto para o passivo, porque continua tendo seu uso permitido? Realmente um paradoxo. Esta lei vem para corrigir isso, protegendo a população que não faz uso dos malefícios da exposição passiva a esta fumaça.

Como médico, que conselho daria aos pais de um adolescente que faz uso de narguilé?

Conversa, conversa e muita conversa. É muito importante dar informação a este filho adolescente sobre o consumo e seus possíveis malefícios pois nas rodas de conversa onde se utiliza o narguilé, é extremamente comum o uso de “fake news” e informações totalmente desprovidas de qualquer comprovação científica para justificar o uso e amenizar os danos causados. Acredito que somente se o filho entender que fumar narguilé ou cigarro causam os mesmos danos é que podemos fazê-los desistir do uso.

*Os anúncios e informes publicitários assinados são de responsabilidade de seus autores,
e não refletem necessariamente a opinião da Revista Saúde Mais.


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