O parto humanizado

O que é o parto humanizado? Neste texto, vamos entender como surgiu o parto humanizado, enquanto refletimos sobre o seu verdadeiro significado. Confira!

Devemos iniciar esse texto nos questionando em que momento o parto foi “desumanizado”, para que agora devamos “humanizá-lo”. Afinal, deixamos de ser humanos?

Desde os primórdios da humanidade, o parto foi encarado como um momento difícil, mas extremamente natural, apenas mais uma etapa da vida da jovem mulher. E, dessa forma, pensar na necessidade da figura de um médico ou de um hospital para um “simples” parto era anormal.

Todavia, as perdas de mães e bebês eram casos mais frequentes e muitas vezes encarado com normalidade. Quem nunca ouviu da avó, bisavó, tia, que “tive 10, mas 6 vingaram”?

Vendo esta realidade tanto em nosso país, quanto fora, a sociedade exigiu mudanças e a resposta foi a crescente medicalização do parto, a partir das décadas de 50-60, tirando das mãos da parteira a atuação no momento do nascimento, saindo da cena do domicílio e reduzindo o protagonismo da mulher nas decisões do parto.

Afinal, agora existia alguém que sabia mais e estava mais preparado para qualquer intercorrência, em caso de necessidade, num ambiente mais controlado e com os aparatos necessários numa eventualidade.

Fortaleciam-se, então, as figuras do médico obstetra e do hospital, que antes ficavam mais voltados para situações operatórias, mas agora deveriam participar do parto normal. De fato, houve uma melhora significativa nas taxas de mortes maternas, neonatais e infantis, mas junto a isso, houve o aumento desnecessário de intervenções sob a justificativa de que “pode acontecer”, “e se for assim”, “tome cuidado porque talvez”, “esse bebê parece que”… e por aí vai num exercício de futurologia sem fim e muitas vezes, sem escrúpulos.

Verdade seja dita, até pouco tempo atrás, pouco se sabia de certezas científicas em Obstetrícia, especialmente em relação ao parto normal.

Então, se o médico falou, era lei, mas o próprio médico não tinha embasamento científico adequado para calçar suas decisões: era a medicina baseada em vivência, infelizmente ainda tão presente nos dias de hoje.

Além disso, um médico, tão ocupado e cheio de outros afazeres, não poderia ficar horas esperando uma mulher dar à luz: iniciava-se aí o aumento exponencial de cesarianas e a intervenção exagerada para acelerar os partos normais. Soma-se o fato de que mulheres viam a cesariana, e eram cada vez mais estimuladas a isso, como o “nascimento sem sofrimento”, o “parto das ricas”, e, dessa forma, o cenário intervencionista e iatrogênico ganhou destaque.

Porém, com a criação do SUS, o despertar da comunidade internacional para as Boas Práticas no parto e maior esclarecimento da mulher, a partir do fim da década de 80, toda década de 90 e, mais fortemente, início dos anos 2000, o clamor por menos intervenções e mais respeito no parto foi levantado pelo mundo afora. Ganhou força a Medicina Baseada em Evidências e, assim, várias intervenções realizadas no passado pelos médicos foram colocadas à prova pelo método científico, e muitas foram desmistificadas.

Ficou provado que, sim, o parto pode seguramente ser feito com menos intervenções, deixando o curso natural do corpo da mulher. O parto que havia sido tão manipulado, instrumentalizado, violado, voltava à essência, propunha-se agora a ouvir opiniões, permitia a participação de mais agentes e não apenas o médico e, com isso, deixava a mecanicidade e o pragmatismo, para buscar o respeito à figura humana da parturiente, daí surgindo o parto humanizado.

Parto humanizado é o parto normal em que há o mínimo de intervenções possível, respeitando o desejo e as liberdades da mulher durante o trabalho de parto e parto. Algumas pessoas (sejam os profissionais ou a própria parturiente) podem usar de criatividade nesse momento, e o fazem, com uso de óleos, perfumes, essências, banhos especiais, uso de banheiras.

Mas é preciso que se entenda que um parto humanizado não se trata desses “penduricalhos”, o seu cerne é o respeito à mulher, com intervenções mínimas e estritamente necessárias, compartilhadas com a mulher, garantindo liberdade e segurança para mãe e bebê e baseando as ações nas evidências científicas mais modernas.

Não precisa de milhares de “frufrus” para que o parto seja humanizado, em qualquer lugar, mesmo com menos recursos, o parto pode e deve primar pela humanização. Inclusive, considero um pouco infeliz essa denominação de “parto humanizado”, afinal de contas, todos somos humanos e o parto faz parte da humanidade.

Respeito, ciência, segurança e liberdade devem estar presentes em todos os momentos, por isso, o parto humanizado deve na verdade ser chamado apenas do que de fato é, sem segregação, sem codinomes, apenas parto, quebrando barreiras e paradigmas e resgatando a essência da simplicidade do nascer.

Dr. William L. Lemos Júnior
CRM 10096

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